Saldo da visita de Lula ao Sudeste Asiático
- João Pedro
- 4 de abr.
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Atualizado: 21 de abr.
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Visita de Estado ao Japão
(23 de março - 27 de março)
O governo brasileiro passou uma semana negociando acordos comerciais e fortalecendo a aproximação com os países da Ásia, em um contexto de guerra tarifária entre China e Estados Unidos.
O Japão, parceiro tradicional do Brasil, compartilha laços históricos que remontam à imigração japonesa iniciada em 1908. O Brasil abriga a maior comunidade japonesa fora do Japão, e os vínculos entre os dois países abrangem investimentos, cooperação tecnológica e intercâmbio cultural. Em 2025, as duas nações celebram 130 anos de relações diplomáticas. No âmbito econômico, o objetivo é recuperar o melhor momento do fluxo comercial bilateral, que atingiu US$ 17 bilhões anuais em 2011, mas que, segundo o Planalto, caiu para US$ 11 bilhões nos últimos anos. Em 2024, o intercâmbio comercial entre Brasil e Japão totalizou US$ 11 bilhões, com superávit brasileiro de US$ 146,8 milhões. O Brasil exporta principalmente carne de aves (frescas ou congeladas), alumínio, carne suína, celulose, café e minério de ferro. Já as importações são compostas por partes e acessórios de veículos, instrumentos e aparelhos de medição, motores de pistão e outros produtos da indústria de transformação.
As relações bilaterais entre Brasil e Japão têm se aprofundado em diversas frentes estratégicas, abrangendo desde o comércio agropecuário até a cooperação ambiental e diplomática. A busca pelo fortalecimento dessas parcerias reflete uma agenda voltada para o desenvolvimento sustentável, o multilateralismo e o crescimento econômico mútuo.
Durante o Fórum Empresarial Brasil–Japão, o presidente brasileiro anunciou a venda de 15 aeronaves modelo E-190 da Embraer para a All Nippon Airways (ANA), uma das principais companhias aéreas japonesas. O contrato, que pode ser expandido para até 20 aeronaves, representa um investimento de aproximadamente R$ 10 bilhões na aviação brasileira, conforme informou o Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho.

Além disso, houve avanços em um acordo de cooperação para o desenvolvimento do SAF, um biocombustível verde produzido a partir do etanol, que despertou interesse das companhias aéreas japonesas. Segundo o ministro, o Brasil tem potencial para se tornar um grande exportador desse biocombustível, e há um plano para que 10% de todo o combustível japonês seja composto por etanol.
Outro avanço importante nas negociações bilaterais foi o acordo de cooperação que permitirá às companhias aéreas japonesas realizarem voos diretos para o Brasil, facilitando a conectividade e incentivando o turismo e os negócios entre os dois países.
A exportação de carne brasileira para o Japão também esteve em pauta. O Brasil destacou a qualidade do produto nacional, ressaltando a segurança sanitária e a erradicação da febre aftosa. O governo japonês realizará, ainda este ano, uma análise técnica para avaliar a viabilidade dessa importação, o que pode representar uma significativa ampliação do mercado para os produtores brasileiros.
No âmbito ambiental, o Brasil tem assumido uma postura ativa no combate às mudanças climáticas. No contexto da COP30, que será realizada em Belém, o país busca estabelecer compromissos concretos para limitar o aquecimento global a 1,5ºC. As metas incluem a redução das emissões de gases de efeito estufa entre 59% e 67% até 2035 e o compromisso com o desmatamento zero na Amazônia até 2030, estendido a outros biomas. O Japão, por sua vez, tem demonstrado apoio a essa agenda, tornando-se o primeiro país asiático a contribuir para o Fundo Amazônia, além de destinar US$ 5 milhões ao Fundo de Resposta Climática.
Outra iniciativa relevante na pauta bilateral é a recuperação de terras degradadas. O Brasil busca cooperação com o Japão para restaurar 40 milhões de hectares de áreas improdutivas, o que pode gerar benefícios ambientais e econômicos significativos, possibilitando o aumento da produção agrícola e florestal de forma sustentável.
No cenário global, Brasil e Japão reforçam sua convergência na defesa do multilateralismo, da paz e da democracia. A crescente adoção de políticas protecionistas em algumas nações tem sido criticada por ambos os países, que defendem um sistema comercial internacional mais aberto e equitativo. Além disso, o Brasil argumenta pela necessidade de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, visando aumentar a representatividade e a eficácia das decisões globais.
A parceria entre os dois países também se fortalece no combate à fome e à pobreza. O Japão aderiu à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo Brasil no G20 de 2024, reforçando o compromisso conjunto com o desenvolvimento social e econômico.
O Brasil pretende impulsionar as relações comerciais entre o Mercosul e o Japão ao longo de sua presidência no bloco, que terá início no segundo semestre de 2025. A iniciativa busca ampliar as oportunidades de comércio e investimento entre as partes, promovendo uma maior integração econômica e facilitando o acesso a mercados estratégicos.
Atualmente, o Japão mantém relações comerciais expressivas com os países do Mercosul, mas ainda há barreiras tarifárias e regulatórias que dificultam um fluxo comercial mais dinâmico. A proposta brasileira visa superar esses entraves por meio de um acordo abrangente, que contemple não apenas a redução de tarifas, mas também a cooperação em áreas como inovação tecnológica, sustentabilidade e infraestrutura logística.
A abertura de mercados entre o Mercosul e o Japão pode representar benefícios significativos para diversos setores da economia. Para o agronegócio, por exemplo, a ampliação do comércio pode consolidar o Japão como um dos principais destinos das exportações sul-americanas, especialmente de carne, grãos e produtos industrializados. Da mesma forma, a indústria e os setores de tecnologia podem se beneficiar com novas oportunidades de parceria e transferência de conhecimento.
O Brasil, como líder desse processo, buscará garantir que as negociações avancem de forma equilibrada, levando em consideração os interesses dos países membros do Mercosul e as demandas do mercado japonês. O sucesso desse acordo poderá fortalecer a presença do bloco no comércio global e contribuir para um ambiente econômico mais competitivo e inovador.
O estreitamento dos laços entre Brasil e Japão ficou ainda mais evidente na declaração conjunta à imprensa após a reunião bilateral entre o presidente brasileiro e o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, em Tóquio. Ficou decidido que, a partir de agora, os chefes de Estado de ambos os países realizarão visitas oficiais a cada dois anos, reforçando o compromisso com a continuidade e o aprofundamento da cooperação bilateral.
Visita de Estado ao Vietnã
(27 de março - 29 de março)

Após visitar o Japão, o presidente Lula se direcionou ao Vietnam. A visita de Estado ao Vietnã representou um marco na relação bilateral entre os dois países, consolidando uma nova fase de cooperação estratégica. O encontro resultou na assinatura do Plano de Ação para Implementação da Parceria Estratégica (2025-2030), um documento abrangente que estabelece prioridades em áreas fundamentais como defesa, comércio, agricultura, tecnologia, meio ambiente, energia e cooperação sociocultural. Esse plano reflete a maturidade da relação entre Brasil e Vietnã e cria um caminho estruturado para ampliar o intercâmbio comercial e diplomático.
Um dos principais avanços da visita foi a abertura do mercado vietnamita à carne bovina brasileira, um movimento que fortalece o agronegócio nacional e amplia a presença do Brasil no Sudeste Asiático. Além disso, foi anunciada a intenção de iniciar a negociação de um Acordo Mercosul-Vietnã, com o objetivo de facilitar o fluxo comercial entre os dois blocos e consolidar o Brasil como porta de entrada do Vietnã na América Latina.
No âmbito institucional, foram firmados dois acordos e dois memorandos de entendimento que reforçam a cooperação bilateral. Os acordos tratam de a permissão para dependentes de diplomatas exercerem atividades remuneradas e da troca e proteção de informações classificadas, enquanto os memorandos preveem parcerias na área comercial e industrial, além de ações conjuntas no futebol. Essas iniciativas demonstram o esforço para fortalecer laços tanto no setor econômico quanto no campo da diplomacia cultural e esportiva.
Outro ponto de destaque foi a expansão das exportações brasileiras de produtos de maior valor agregado, com o Brasil buscando consolidar sua presença no mercado vietnamita não apenas por meio de commodities, mas também com produtos industriais, como aeronaves da Embraer. O setor energético também foi pauta prioritária, com o fortalecimento da cooperação em energias renováveis, incluindo biocombustíveis, energia solar, eólica e hidrogênio verde. O Brasil se posiciona como um parceiro estratégico na transição energética global, compartilhando sua expertise com o Vietnã.
No campo ambiental, Lula apresentou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, que será lançado na COP30, em Belém, com o objetivo de criar um fluxo permanente de financiamento para países tropicais que preservam suas florestas. O Brasil convidou o Vietnã a apoiar a iniciativa, consolidando a cooperação ambiental entre os dois países. Além disso, reforçou o convite para a participação vietnamita no encontro do BRICS e na COP30, ampliando o diálogo entre os emergentes sobre desenvolvimento sustentável e geopolítica global.
A visita também reforçou a importância da cooperação em educação, ciência e tecnologia, com a proposta de intercâmbio acadêmico e de pesquisadores em áreas como semicondutores, inteligência artificial e transformação digital. Essa iniciativa se soma aos esforços de parceria no setor agrícola, em especial no cultivo do café, onde Brasil e Vietnã, os dois maiores produtores mundiais, devem colaborar para desenvolver grãos mais resistentes às mudanças climáticas.
O saldo da visita de Lula ao Vietnã demonstra uma ampliação significativa da relação entre os países, baseada em interesses estratégicos comuns. O Brasil se fortalece como um parceiro confiável para o Vietnã na América Latina, ao mesmo tempo em que consolida sua presença no dinâmico mercado do Sudeste Asiático. O avanço no comércio, os investimentos em inovação e sustentabilidade e o estreitamento dos laços diplomáticos sinalizam uma nova fase de cooperação entre as duas nações, com impactos positivos para o futuro da relação bilateral.
Referências Bibliográficas
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lula: “A relação Brasil-Japão ganha nova dimensão”. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/03/lula-201ca-relacao-brasil-japao-ganha-nova-dimensao201d>.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lula: “A visita mais importante que já fiz ao Japão”. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/03/lula-visita-mais-importante-que-ja-fiz-ao-japao>.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Lula a empresários no Vietnã: “Marco de uma nova fase de cooperação”. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/03/lula-a-empresarios-no-vietna-201cmarco-de-uma-nova-fase-de-cooperacao201d>.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Brasil e Vietnã oficializam Plano de Ação para o período de 2025 a 2030. Disponível em: <https://www.gov.br/planalto/pt-br/acompanhe-o-planalto/noticias/2025/03/brasil-e-vietna-oficializam-plano-de-acao-para-o-periodo-de-2025-a-2030>.
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