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Marrocos e o Saara Ocidental: o que esperar?

Atualizado: 26 de ago.

Nota: As opiniões expressas neste texto são de responsabilidade exclusiva do autor e não refletem, necessariamente, a posição deste site.


Uma escavadeira passa pelo topo de uma colina, operada por soldados marroquinos, em uma estrada entre Marrocos e Mauritânia, em Guerguerat, no Saara Ocidental, em 23 de novembro de 2020.
Uma escavadeira passa pelo topo de uma colina, operada por soldados marroquinos, em uma estrada entre Marrocos e Mauritânia, em Guerguerat, no Saara Ocidental, em 23 de novembro de 2020. (Foto: AFP)

O Saara Ocidental, região desértica na costa noroeste da África, foi colônia espanhola até meados da década de 1970. Após a retirada da Espanha, Marrocos e Mauritânia reivindicaram o território, mas a resistência veio do Frente Polisário, movimento de libertação que declarou a República Árabe Saaraui Democrática (RASD) em 1976. Mauritânia acabou abandonando suas pretensões em 1979, mas o Marrocos anexou a maior parte do território, desencadeando um conflito armado prolongado.


Em 1991, um cessar-fogo mediado pela ONU previu a realização de um referendo de autodeterminação, mas a consulta nunca ocorreu devido às objeções marroquinas, principalmente sobre quem teria direito a votar. O impasse se manteve até 2020, quando o cessar-fogo colapsou após repressão marroquina a protestos saharauis, reabrindo confrontos militares.


Interesse do Marrocos


O Marrocos considera o território parte de sua integridade territorial, chamando-o de “Saara Marroquino”. Além da dimensão nacionalista e simbólica, o país tem fortes interesses econômicos: a região concentra vastas reservas de fosfato (cerca de 70% do total mundial) fundamentais para a produção de fertilizantes e para a segurança alimentar global. O território também possui relevância geopolítica, servindo como ponto estratégico no Atlântico e elo nas relações regionais.


Por isso, Rabat insiste em oferecer apenas uma autonomia limitada, mantendo a soberania marroquina. Essa proposta tem atraído apoio crescente de potências como EUA, França e Espanha, que enxergam no Marrocos um parceiro-chave em migração, contraterrorismo e estabilidade regional.


Oposição do Frente Polisário


O Frente Polisário defende o direito à autodeterminação plena, com um referendo de independência. Seu projeto político é representado pela RASD, que conta com reconhecimento de mais de quarenta países e é membro da União Africana (UA). O movimento mantém suas bases no sul da Argélia, país que oferece apoio militar e político, reforçando a rivalidade histórica entre Argélia e Marrocos.


Além disso, a entrada de atores externos, como Irã, acusado de fornecer armas ao Polisário, aumenta a percepção de que o conflito possa servir como palco de disputas por procuração.


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Postura da comunidade internacional


  • Favoráveis ao Marrocos: EUA, França, Espanha e diversos países ocidentais, que priorizam segurança, estabilidade regional e cooperação migratória.

  • Favoráveis ao Polisário/RASD: Argélia, parte da África e países do Sul Global que defendem a descolonização e o princípio da autodeterminação.

  • Neutros/evitam confronto: União Europeia como bloco e parte da ONU, que reconhecem o território como “não-autônomo”, mas sem impor sanções efetivas a Rabat.


No âmbito da União Africana, a adesão da RASD em 1984 levou Marrocos a se retirar do bloco, retornando apenas em 2017. Desde então, a UA evita tratar do tema de forma central, para não aprofundar divisões internas.


O conflito do Saara Ocidental combina dimensões históricas, econômicas e geopolíticas, tornando difícil uma solução simples. O cenário atual sugere que:


  • A posição marroquina tende a ganhar mais legitimidade internacional, especialmente entre países ocidentais dependentes da parceria com Rabat.

  • O Polisário, embora resistente, enfrenta isolamento diplomático crescente, mantendo apoio sobretudo da Argélia e de parte da África.

  • O risco de escalada militar continua presente, especialmente diante da crescente utilização de drones e do envolvimento indireto de potências externas.

  • Um referendo de independência parece cada vez mais improvável, enquanto a proposta de autonomia sob soberania marroquina ganha força como a alternativa mais viável, ainda que rejeitada pelo Polisário.


Em resumo, o Saara Ocidental tende a permanecer como um conflito congelado, com episódios de violência intermitente, enquanto o Marrocos consolida sua posição e a comunidade internacional, em sua maioria, privilegia pragmatismo estratégico em detrimento do direito à autodeterminação saharaui.


Indicamos estes livros para quem deseja se aprofundar no tema:


Referências


ARMSTRONG, H. R. The Case for Partition in Western Sahara. Disponível em: <https://www.foreignaffairs.com/western-sahara/partition-solution-morocco>.


ELJECHTIMI, A. Trump reaffirms support for Morocco’s sovereignty over Western Sahara. Reuters, 2025.


LOVATT, H. Can Trump make a deal on Western Sahara? Disponível em: <https://www.cidob.org/en/publications/can-trump-make-deal-western-sahara>.


MOCERI, A. Morocco Makes a New Case for Sovereignty Over Western Sahara. Disponível em: <https://www.worldpoliticsreview.com/morocco-western-sahara-development/>.


SUN, E. What Does the Western Sahara Conflict Mean for Africa? Disponível em: <https://www.cfr.org/in-brief/what-does-western-sahara-conflict-mean-africa>.

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