Crise entre Israel e Irã: o que já se sabe sobre os ataques
- João Pedro
- 13 de jun.
- 3 min de leitura
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Em 13 de junho de 2025, as tensões entre Israel e Irã atingiram um novo patamar de gravidade, com ações militares diretas, trocas de ameaças e movimentações diplomáticas intensas. O conflito, que já vinha se desenvolvendo ao longo dos anos em múltiplas frentes, incluindo a guerra na Síria, ataques cibernéticos e sabotagens, tomou forma mais explícita com ações ofensivas no território iraniano.
O episódio de maior repercussão ocorreu com a revelação de que Israel conduziu ataques com mísseis contra alvos na região central do Irã. A resposta do Irã veio em forma de múltiplas explosões na província de Isfahan, que abriga uma das principais instalações nucleares do país. Embora a imprensa estatal iraniana tenha inicialmente minimizado os danos, fontes independentes apontaram que instalações militares e nucleares podem ter sido atingidas, o que representaria uma escalada significativa.
O governo iraniano declarou que a maioria dos mísseis foi interceptada e buscou passar a mensagem de que não houve prejuízo à infraestrutura crítica, mas reforçou seu discurso de retaliação contra Israel.
A comunidade internacional rapidamente se mobilizou. Os Estados Unidos, embora aliados históricos de Israel, pediram moderação e reiteraram que não estavam envolvidos nas ações ofensivas. O governo Trump, que se vê pressionado pela necessidade de manter alguma estabilidade no Oriente Médio, procurou descolar-se da iniciativa israelense.
Ao mesmo tempo, países como Brasil, França, Alemanha, Reino Unido e China expressaram preocupação com a possibilidade de uma guerra aberta. A China, em particular, condenou os ataques israelenses de forma veemente e convocou uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU, na qual pediu por “responsabilidade e contenção de todas as partes”.
As ações israelenses parecem ter sido calibradas para atingir alvos militares e simbólicos, sem provocar uma guerra total. Especialistas apontam que o objetivo foi enfraquecer o programa nuclear iraniano e enviar um recado de força, especialmente após o lançamento de mísseis por parte do Irã meses antes, que também representaram um desafio sem precedentes à superioridade militar israelense na região. Ao mesmo tempo, o Irã tenta preservar sua imagem de resistência sem provocar uma guerra frontal, dada sua situação econômica interna e o receio de perder apoio internacional.
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Seyed Abbas Araghchi, por sua vez, reagiu de forma imediata nas instâncias diplomáticas. Enviou ao Conselho de Segurança da ONU uma carta oficial denunciando os ataques como agressão deliberada contra sua soberania e exigindo uma resposta internacional contundente. No documento, o ministro das Relações Exteriores, , classificou os bombardeios como “violações flagrantes do direito internacional” e alertou que Teerã exercerá seu “direito inalienável à autodefesa”, sinalizando que o país prepara uma retaliação proporcional. A diplomacia iraniana também acusou os Estados Unidos de cumplicidade, considerando Washington um "patrocinador direto" da agressão.
O conteúdo da carta é revelador tanto do posicionamento jurídico do Irã quanto da gravidade atribuída pelo regime ao ataque. A menção à violação do artigo 2(4) da Carta da ONU, que proíbe o uso da força contra a integridade territorial de Estados membros, reforça a estratégia iraniana de buscar respaldo legal e diplomático, ao mesmo tempo em que sustenta sua legitimidade para reagir militarmente sob o artigo 51 (direito à legítima defesa).
Internamente, o Irã enfrenta agora uma pressão dupla: preservar a imagem de força e soberania do regime, enquanto evita uma guerra em múltiplas frentes que possa desestabilizar ainda mais o país, já fragilizado economicamente. A retórica da carta, ao mesmo tempo firme e calculada, sugere que a resposta iraniana poderá ser calibrada para evitar uma escalada direta com Israel ou um confronto com os EUA.
No cenário internacional, o Conselho de Segurança das Nações Unidas foi convocado em caráter de emergência, mas está paralisado diante da divisão entre as grandes potências. A possibilidade de uma resolução condenando Israel foi imediatamente travada pela expectativa de veto por parte dos Estados Unidos, o que mina qualquer ação efetiva do órgão e evidencia os limites do multilateralismo em contextos de conflito envolvendo aliados estratégicos de potências com poder de veto.
Do lado norte-americano, o presidente Donald Trump adotou uma postura ambígua e escalada. Em postagem no Truth Social, ele afirmou que o Irã ainda tem “tempo para evitar um massacre”, instando Teerã a assinar um acordo sobre seu programa nuclear. A ameaça velada (“simplesmente façam, antes que seja tarde demais”) se soma à retórica bélica que caracteriza sua política externa, sugerindo que os EUA apoiariam novos ataques caso o Irã não recuasse. Ao mesmo tempo, Trump tenta se apresentar como uma figura de pressão para a diplomacia, utilizando o conflito como alavanca para retomar negociações nucleares sob seus próprios termos.
Essa combinação de ações militares, ameaças diplomáticas e pressão internacional delineia um cenário altamente volátil. Por ora, a crise está sendo gerida com cautela militar, mas com crescente radicalização retórica, o que eleva os riscos de erro de cálculo por parte de ambos os lados. O Oriente Médio, mais uma vez, se encontra em uma encruzilhada entre uma possível normalização das tensões e a deflagração de um conflito regional de proporções imprevisíveis.
A evolução dos próximos dias dependerá da capacidade dos atores envolvidos, em especial, Estados Unidos, Israel, Irã e atores regionais como o Hezbollah, de conter impulsos de escalada e preservar canais diplomáticos. Contudo, à medida que o Conselho de Segurança permanece impotente e a retórica agressiva predomina, cresce a incerteza quanto ao desfecho dessa crise.
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